O triste fim da Banda Lopes
Por Mary Camata
Foi com um grande susto que li a notícia dada pelo próprio Lopes de que uma das bandas mais bacanas da cena underground de Cuiabá estava anunciando seu fim. No começo juro que nem acreditei.
Minha história com a Lopes é bonita, tenho um carinho enorme pelos meus “queridinhos”. Pude assistir a banda Lopes em dois estados diferentes. Assisti shows em Rondônia e depois em Tocantins quando eu fui trabalhar em um Festival. Sempre digo que o Rodrigo Lopes, vocalista da banda tinha cara de tudo, menos de vocalista de banda de rock, mas quando o loirinho subia ao palco, era impossível não parar e ficar admirando a performance e a sintonia deste mega power trio, os queridinhos da banda Lopes como eu mesmo intitulei-os.
Em uma entrevista que fiz para a revista Rockazine eu descrevi: “Lopes. Um sujeito loirinho, baixinho, sem tatuagem, cabelo curto e com cara de gente boa. Jamais imaginei o que ele faria no palco. Impossível ver Lopes e seus dois “meninos” Danilo Sossai (baixista) e Rubão Lisboa (baterista) subirem ao palco e não ficar admirada com o timbre da voz de Lopes e suas caras de mal, se transformando em uma figura completamente “rock and roll”. Lopes é rock com a mais perfeita química. Foi assim minha primeira impressão ao ver a banda Lopes lotar shows com inúmeros fãs cantando suas músicas cheias de mensagens de “acorda aí meu povo, olha o que está virando este mundo”.
Então, posso dizer com todas as letras que o rock fica órfão de uma banda que transmite sua mensagem e muito bem, diga-se de passagem, considerada não só por mim, mas por muitos críticos como uma banda importante na cena do rock independente. Fico triste de saber que o rock independente, que não é tão independente assim, deixa de ter mais uma grande banda que protestava com letras inteligentes por onde quer que passasse. Abaixo, segue a carta de despedida do vocalista da banda Lopes, Rodrigo Lopes:
“Venho amadurecendo essa idéia já faz um tempo, uns 6 meses mais ou menos, desde que comecei a minha formação para ser piloto de aeronave. Há uma semana atrás conversei com os meus companheiros de banda e, eles entenderam meus motivos e, não se opuseram, atitude que tornou a ação mais tranqüila. Os motivos, são vários mas, vou citar pelo menos dois, os principais e fundamentais:
1°- Preciso estar com a minha cabeça pelo menos 90% vazia (já que 100% é impossível) para poder me dedicar à aviação, que a partir de agora será a minha prioridade e futura profissão.
2°- O segundo já é mais complexo, mas vamos lá. Durante 16 anos profissionalmente (pois dos 12 aos 15 foi o descobrimento), me dediquei à música na perspectiva de um dia viver (financeiramente) da mesma, nunca tive banda por hobbie, para comer menininha, pra ter acesso a drogas ou cachaça, e até mesmo para só “fazer um som”, o ultimo exemplo talvez seja o caso da maioria. Sempre me dediquei 100%, na tentativa de sempre fazer o melhor e ser o mais profissional possível. Com o LOPES, meu ultimo e definitivo projeto, estou desde 2004, ou seja 7 anos e, não vejo perspectiva nenhuma de alcançar o meu objetivo (viver de uma banda), o cenário Nacional de uma forma geral com algumas exceções é desolador, amador e desrespeitoso para com o “artista sério”. Não quero mais alimentar um sonho inalcançável. Ser independente é ser altamente dependente, o único caminho de verdade ainda é o mainstream, as gravadoras, Domingão do Faustão, rádios convencionais, MTV , etc. Esses, com certeza, só querem um rosto bonito que faça uma musica bem idiota, para agradar um povo mais idiota ainda, que é o Brasileiro (não é a toa que mais de 80% dos candidatos não passaram no teste da OAB, a trilha oficial hoje dos universitários é o “SERTANEJO UNIVERSOTÁRIO”).
E assim resolvi dar um basta e abrir mão de um projeto que investi durante 7 anos, o LOPES. Desde já quero agradecer demais a todos que de uma forma ou de outra sonharam comigo, em especial minha esposa Caroline e meus companheiros de banda Rubão Lisboa, Danilo Sossai e não menos Ricardo Felippo. Sem drama nenhum, acreditem, não levo magoas e nem acho que foi “TEMPO PERDIDO” mas, minha trajetória na música acaba aqui, pelo menos em banda, fazendo show, estou pendurando a chuteira, passando o bastão, e que venham as próximas gerações.
Resolvi escrever para evitar disse que disse e, para não ter que explicar para um por um isoladamente. Não vou mais conversar sobre esse assunto, o mesmo está sepultado. Lembrando que, o Estúdio Riff (ensaio, gravação e locação) continua firme e forte.”
É Lopes, a gente vai ficar aqui torcendo muito não só por ti mas também pelos seus companheiros e grandes músicos Rubão e Danilo para que continuem fazendo sucesso e que sejam felizes da melhor maneira possível, mas uma coisa não podemos negar e não tem como apagar: A BANDA LOPES É O ROCK.
Comentários
O pouco ou o muito para alguns como eu, que Lopes escreveu em sua história pelo rock foi registrada por você em palavras e imagens.
Muito obrigado de todo coração.