Esse é pra quem não foi no Se Rasgum 2009


Por Helaine Cavalcante

Confesso que sou bastante suspeita para relatar sobre como foi o 4º Festival Se Rasgum 2009 (Festival de Rock de Belém do Pará), dado o meu grau de envolvimento afetivo com algumas bandas que se apresentaram no evento. Por outro lado, presenciei todas as edições do festival, isso me faz ter lá alguma noção para um parâmetro importante em qualquer análise. Meus amigos músicos se derretiam de elogios à qualidade de som e iluminação dos três palcos que ocuparam a casa de shows Afrikan Bar no último fim de semana. Eu - jornalista e não música - gostei de tudo. Realmente era visível que estava tudo muito bem organizado, desde os rodies sempre super atentos para qualquer detalhe dos shows das bandas, até os horários das apresentações que, desta vez, atrasaram pouquíssimo.

Isso é muito bom, porque respeita o público que chega no horário que está marcado a começar. Mas é muito ruim também com aqueles que chegam atrasados propositalmente pensando que todo show inevitavelmente atrasa, além de ser extremamente cruel com as excelentes bandas que abriram algum dos dias do festival. Isso aconteceu com Aeroplano e Clube de Vanguarda Celestial, bandas paraenses que abriram o sábado e o domingo, respectivamente. Uma pena. As bandas deveriam tocar num horário melhor. E essa aí foi a minha primeira queixa. No primeiro dia, Cérebro Eletrônico embalou o público com um som maravilhoso, despertando surpresas na maioria esmagadora que não conhecia a banda até então. Pena que os cd’s disponíveis em uma das banquinhas acabaram muito rápido. Eu queria um.
Nação Zumbi foi sem dúvida o destaque da noite, por isso que até agora tem gente se perguntando por que eles não foram à última atração – como estava programado – e sim a anti-penúltima. Mas enfim, foi tão bonito ter a impressão que o chão tremia com o pulo da multidão cantando em coro “Tomar banho no canal quando a maré encher...”. Bonito mesmo.
Mais bonito que isso só o show da Eletrola. Primeira banda paraense a ter videoclipe transmitido na MTV, conhecida por ter mudado completamente a história do rock paraense. Um verdadeiro marco. A banda terminou em 2004. Sem nenhum show de despedida ou aviso prévio. Dezenas de fãs órfãos jamais a esqueceram e fizeram com que ela jamais fosse esquecida, reproduzindo aos mais novos a música da banda, que lançou apenas um único CD. Eu sou um dos frutos dessa geração que não viveu o auge Eletrola, e que se emocionou na sexta-feira quando, pela primeira vez, os músicos Eliézer, Camillo, Natanael e Andrea subiram ao palco dispostos a fazer um show de despedida. Ou seria um retorno? Os músicos negam a possibilidade firmemente e garantem que a apresentação de sexta-feira foi “única e exclusiva”, até porque o quarteto agora tem outros projetos: Johny Rockstar (Eliézer e Natanel), Turbo (Camilo) e Amplificador de Brinquedo (Andrea). Mesmo assim, durante o delírio no show de sexta, pude ouvir gente gritando “Eletrola voltou!”. O show contou com a participação especial de Ivan Vanzar – baterista das paraenses Madame Saatan (residente em São Paulo desde 2008) e Johny Rockstar – que havia desembarcado na cidade minutos antes do Eletrola subir ao palco e ainda conseguiu chegar a tempo de tocar “Quem?”.
Gabi Amarantos (Tecnoshow) empolgou o público do festival livrando qualquer vestígio de preconceito que alguns podem imaginar que os roqueiros têm quanto ao tecnobrega. Ver um cara gordo, com pircieng’s, tatuagens e uma camiseta do Ozzy dançando o “melô da piriquita” foi com certeza uma das cenas que não sairá tão facilmente da minha memória. Devia ter fotografado. Ah, adianto que até os rondonienses da Ultimato entraram na dança. Ao final do show, uma verdadeira gafe de Gabi: a cantora anunciou cantar uma homenagem ao Mestre Verequete (cantor e compositor de carimbó – conhecido por ser o principal precursor do estilo - falecido no último dia 3 de novembro), mas cantou sucessos de Pinduca e Mestre Lucindo. Pois é...
Nesse dia, Bonde do Rolê acabou sendo a última apresentação, tocando até umas 4 da manhã. Loucura e insanidade para o público. Paraenses dançando funk igual cariocas. Engraçado até, olha. Uma pena a polícia ter chego e “pedido” pra abaixar o som. A banda se recusou e o show teve que acabar.
No sábado, destaco os shows dos paraenses Pinduca, Aeroplano, Dharma Burns e dos mineiros Pato Fu e Radiotape. Pato Fu fez um show maravilhoso, para delírio do público belenense que esperava por esse momento desde 2004, quando a banda tocou no então “Yamada Tim Festival”. Músicas novas e antigas. Iluminação incrível. Lindo de ver. Fernanda Takai abriu uma excessão e cantou pela primeira vez – segundo ela mesma - em um show da banda uma música de seu disco solo: o sucesso do carimbó “Sinhá pureza” regravado pela vocalista.
Essa noite também foi de muita emoção para a Johny Rockstar que depois de 10 meses, tocou com a formação original. Fãs, amigos e os integrantes da banda estavam visivelmente emocionados, afinal, o encontro só foi possível através de uma cooperação mútua, rolando a sempre fiel “vaquinha” entre todos, o objetivo? Trazer o baterista residente em São Paulo. Valeu muito a pena. O show foi incrível e o público – que desde a passagem de som já se aglomerava na frente do palco – curtiu todas as 7 músicas que a banda tocou.

ÚLTIMO DIA - O domingo foi marcado pelo triste cancelamento de uma das atrações mais esperadas pelo público. Retrofoguetes não pode participar do festival. Em nota, a produção do Se Rasgum divulgou na tarde do domingo que o motivo foi um problema com a emissão de passagens e afirmou ter sido um erro exclusivo da Empresa Aérea. Uma pena. Todos falavam muito bem da banda que vem se consagrando com uma seguidora do rock instrumental que está numa fase excelente no rock independente nacional.
O show da pernambucana Amp surpreendeu à muitos. Não só pela música de qualidade mais pela presença de palco da banda. Também não achei CD pra comprar. Pena.
Os melhores shows de todo o festival foi com certeza no domingo. Delinqüentes (PA), Stress (também paraense e conhecida por ser a primeira banda de heavy metal da América Latina), Matanza e Velhas Virgens. O público não demonstrou cansaço e curtiu cada música de cada uma dessas bandas incessantemente. Nem me meto a descrever o que foi aquilo. Recomendo à todos os que estão lendo isso que pensem seriamente antes de decidir não ir no próximo Se Rasgum. Esta foi a melhor edição de todas e ano que vem, até onde ouvi falar, promete ser ainda melhor.

Dica: Não deixe de conferir a cobertura completa do Se Rasgum 2009 no flickr oficial do evento: www.flickr.com/serasgum
Fotos: Renato Reis, Glauce Andrade, Marcelo Lelis, Diego Dalmaso, Thiago Araujo

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